quarta-feira, 29 de abril de 2009

Palavras

Tudo o que eu queria,
Não precisava de ser perfeito,
Talvez pouco trabalhado, pouco amado,
Mas era algo que me dizia respeito.

Nada podia mudar isso,
Nem mesmo a memória,
Era mais que presença, mais que alegria,
Mais que uma batalha e uma vitória.

Foi algo que eu fiz,
Algo que a minha boca não conseguiu calar?
Ou foi simplesmente o tempo,
Que a tua não deixou falar?

Como gosto de ouvir o silêncio,
Como as rimas parecem calmas
Não são mentiras, nem ilusões,
São apenas o que resta, palavras...

domingo, 26 de abril de 2009

Sopro de Liberdade


Era o tempo que se fazia tarde,
O sofrimento já pesava, a dor era muita,
No peito carregavam a dor dos Homens,
No corpo as marcas de tortura.
O silêncio era cruel,
As palavras ficavam por dizer,
E na consciência dos Homens,
Nada se podia fazer.
Foi então que surgiu,
Como um sopro de Liberdade,
Um povo mais que unido,
Querendo bonança, no meio da tempestade.
E assim nasceram cravos,
As palavras saíram, o povo gritou,
A união faz a força
E disso, nunca ninguém duvidou.
Um sopro de liberdade para todos.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Materialista

É estar presa a um mundo que não existe,
Do ponto de vista de um materialista,
É não acreditar na obra de um escritor,
Na pintura e escultura de um artista.

Isso faz de mim uma mentira,
Um espelho frágil e trágico de uma vida,
Com falhas e retalhos, pedaços e traços,
Não sei de quem a minha existência deriva.

Se a minha existência não existe,
Sou mera manipulação do destino,
Isso faz de mim quase imaginação,
Um pensamento de ilusão, sem nexo ou sentido.

Não quero acreditar na verdade,
Talvez por que não passa de uma mentira,
Chamem-me abençoada, talvez artista,
Mas calem-se as bocas que me chamam materialista!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Desafio

O desafio que tive oportunidade de ler através do blog "Anjo de Cor", interessou-me e então resolvi aceitar de imediato. Trata-se de pegar no primeiro livro que estiver à mão, abri-lo na página 161 e copiar da 5ª linha a frase completa. Aqui vai a minha frase:

"Não sei ao certo quanto tempo fiquei assim, mas quando voltei à superfície e abri os olhos, ao mesmo tempo que respirava sem fazer barulho, a música havia acabado."
Sputnik, Meu Amor- Haruki Murakami

Espero que aceitem este desafio.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Não, obrigada



Do sangue que jorrou,
Das lágrimas que secaram,
Uma mão cheia de tudo,
E outra, por sinal, sem nada.

Da rosa com espinhos,
Que magoam em silêncio,
Do pecado, desejado,
Da vida tão breve e no entanto, intensa.

Por isso renuncio,
Por que o corpo, mente e alma,
É um ser magoado,
Por agora digo assim: não, obrigada.


( Todas as imagens colocadas são imagens do google. Nenhuma delas é de minha autoria.)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Podia...

O tempo e a memória,
O princípio e o fim,
A alegria e o sonho,
A vida é mesmo assim.

Não posso encontrar um rumo,
Se o caminho eu não sei,
Não posso ser maior,
Se no fundo, nunca me encontrei.

Podia ter asas, saber voar,
Podia correr, talvez mergulhar,
Mas não se compra, aquilo que se encontra,
Dentro de mim.

O tempo e a memória,
A vida é mesmo assim...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Sonho

Hoje olhei para a folha,
Vi nela uma grande dúvida,
Não existiam palavras, nem riscos,
Apenas brancura.

Queria encontrar em mim,
Algo que pudesse mudar,
Talvez o aspecto, a personalidade,
Com certeza a maneira de falar.

Foram tantas as emoções,
Lembro-me de rir e chorar,
Quando lia uma história,
Ou a contava, de sentimentos a transbordar.

Tudo não passava de um sonho,
Era claro como a verdade,
Mas neste mundo de injustiças,
Nunca há igualdade.

Então sonhei ser uma folha,
Uma folha com uma dúvida,
Não ter palavras, nem riscos,
Ser apenas brancura.

É o regresso à poesia.

domingo, 5 de abril de 2009

Memórias - Cap.4

Eu não podia ouvir aquelas palavras e não pensar nelas. Dante não foi preciso, talvez fosse essa a sua intenção. Eu era egoísta. Durante aquele tempo, tinha pensado apenas numa maneira de expulsar Ema daquela casa. Existiam problemas bem maiores que a minha vontade, agora via isso. Mas que podia fazer? Eu era uma criança que nem a sua própria cabeça compreendia quanto mais retirar a venda dos olhos e tomar consciência do que se passava para lá do meu conto de fadas! Eu não vivia numa ilusão, isso seria um castigo demasiado penoso. A casa de férias, as empregadas, os sorrisos arquitectados, a verdade que chegou tarde demais...
« - Passa-se alguma coisa, menina? »
« - Qual é a verdade que eu não vejo? Se existe alguma verdade nisto tudo » .
« - Não estou a compreender ».
« - Quais são os segredos que me esconderam? »
« - Não sei do que fala ».
« - Por que é que sinto que está tudo errado? Eu não confio em mais ninguém, nada parece fazer sentido! Quem sou eu? O que faço aqui? »
Tinha a sensação que tinha perdido a minha identidade. Eu não era sensível, aguentaria qualquer verdade. Quem pensava que o era, não me conhecia nem um pouco. Lembro-me que naquele dia refugiei-me no sótão. Raramente subia as escadas que davam acesso àquela parte da casa mas sei lá porquê, resolvi abrigar-me naquele local. Era um bom espaço, apesar de estar vazio. A vista para o campo era de facto extasiante, sendo lamentável apenas existir uma janela.
Escrevi na última página do diário as minhas interrogações. Não eram para ninguém, todas as anotações que fazia serviam para clarificar os pensamentos que cirandavam à volta da minha cabeça. Naquele momento julgava que estava enganada quanto a tudo. Até então, a verdade era um termo que pertencia a todos os seres humanos, um termo ao qual ninguém podia fugir sem ser julgado dia menos dia. Tomei como exemplo o meu pai. Não tinha uma relação próxima com ele, não sabia o que fazia quando estava triste, as suas expressões, o que representava na sua vida. Concordávamos nesse aspecto: também ele não sabia nada sobre mim. Não quer dizer que não tivesse curiosidade em aprender e descobrir a sua personalidade mas não valia a pena quando esse alguém se fecha sobre si próprio como uma concha. A verdade nunca me pareceu desaparecer das suas palavras ou acções. O meu pai era um homem correcto, justo, um homem “às direitas”. Não falava sobre o seu trabalho, o que sempre me intrigou, mas isso nunca foi motivo de conversa. A minha mãe era uma pessoa impulsiva. Sempre deixou os momentos de cordialidade, as relações formais, ela gostava de se relacionar com toda a gente e de não ter apenas um ponto de vista. Não tinha receio de ser falada, tudo o que fazia era usado para o Bem e nada contra esse valor. Os meus pais eram precisamente o contrário um do outro.
Dante. Não sei por que pensei nele, acho que se o tinha feito, com certeza teria alguma razão de ser. Ele também era muito diferente de Ema. A maneira como falava, pensava e por vezes agia, tornava-me uma pessoa insignificante. Eu não tinha uma ideia de como a realidade era para lá da minha própria vida. Por outro lado, ele sabia muito bem tudo o que se passava. Mais uma razão para o meu pai o achar uma pessoa inconveniente. Mas eu não pensava assim, de maneira nenhuma. Queria-o bem perto, como uma tábua de salvação. Ele era a única fuga a todas as mentiras, ou pelo menos às verdades omitidas. Não tinha qualquer dúvida quanto à sua presença e aos sentimentos que nutria por Dante. Ele era um amigo especial, uma pessoa que me “empurrava” para a realidade quando a ilusão já não fazia sentido. Esperava encontrar respostas para as minhas interrogações. Apenas não queria tornar-me como aquele sótão, um espaço vazio...

(Viajante Solitária)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Memórias - Cap.3

Não foi uma conspiração contra Ema. Eu não queria magoá-la, apenas tirá-la da minha casa. Confiei em Dante para me ajudar nessa difícil tarefa. Naquela altura podia jurar que não havia melhor pessoa que ele. Fizemos um pacto de fidelidade. Rájia não gostou da minha proximidade com Dante, inventando muitas vezes tarefas para me manter ocupada.
« - Tenha cuidado com aquele rapaz. Não se esqueça de quem é filho » .
« - Rájia... »
Eu tinha curiosidade em saber.
« - Deseja alguma coisa? »
« - O que é o amor? »
Pensei que Rájia ia fugir à minha pergunta, inventar uma desculpa qualquer e deixar-me na ignorância. Mudei completamente de opinião quando a vi sentar-se na cadeira defronte à minha, envergando um ar pensativo. Gostava de observar as pessoas quando estavam distraídas. Os olhos pareciam ficar vazios, o corpo parado, a verdadeira essência transparecia.
« - O amor não é algo que se explique. Primeiro tem de o sentir. Tudo se torna diferente, o mundo é visto com outros olhos » .
Assimilei as palavras proferidas. No entanto continuava sem entender o seu verdadeiro significado. Se o amor era assim tão bom, tão feito de magia, por que razão Rájia tinha quase implorado para que não contasse a ninguém o que estava a fazer no celeiro? Na altura disse-me que não era nenhum crime.
« - O meu pai amava a minha mãe? »
« - Tenho a certeza que sim. Quando se ama alguém, aceitando tudo o que de bom e de mau tem, não há razão para se ser infeliz. E a sua mãe tinha um brilho nos olhos, uma alegria de viver quase inesgotável. Por outro lado o seu pai viveu sempre encerrado no silêncio mas tenho a certeza absoluta que foi muito feliz com a sua mãe. Especialmente depois do seu nascimento».
« - Gostava que o meu pai não fosse tão calado. Tenho medo que a solidão que transporta o torne amargo, ainda mais amargo ».
Naquela casa as pessoas passavam a vida a servir e a ser servidas. Durante as pequenas pausas em que ocorria uma transição, não existia um sorriso fugidio, uma palavra de agradecimento ou mesmo um olhar de soslaio. Um pai e uma filha, cara e coroa da mesma moeda, dois desconhecidos sobre o mesmo tecto.
Os soldados deixaram de marchar no soalho da casa. Mas ao contrário do que esperava, todos os dias o meu pai recebia correspondência do exército. O selo timbrado com o símbolo oficial não passava despercebido. Sempre me intrigou o facto de nunca se falar daquele assunto. Sim, o meu pai era comandante das tropas e tinha poder dentro daquele meio mas se era essa a sua função, por que não orgulhar-se de manter a paz e prosperidade na cidade?
« - Posso fazer-te uma pergunta? »
Os passeios pelo campo eram feitos a meio da tarde. Normalmente caminhava com Rájia, ela gostava de me contar uma história enquanto desfrutávamos da paisagem. Mas com a chegada de Dante, a sua companhia passou para segundo plano. Ele era algo calado, parecia guardar as suas reflexões para si mesmo e apenas as partilhar quando encontrava o momento propício. Fiquei algo curiosa quando naquela tarde, me dirigiu a palavra.
« - Claro ».
« - Gostas de viver assim? »
« - Gosto da Natureza, da paz deste lugar, de como o simples é belo » .
« - Não me referia a isso ».
« - Então? »
«- Gostas de viver nessa concha que te protege da verdadeira realidade? »
« - O que queres dizer com isso? »
« - Acho que não tens consciência daquilo que se passa. Que de alguma forma te prenderam num escudo onde a verdade não entra. Esconderam-te muitos segredos, muitas acções que passaram despercebidas quando deviam ter sido faladas e impedidas. Vendaram-te os olhos, trouxeram-te para locais bonitos e esqueceram-se que lá fora, na verdadeira realidade, o sonho já não existe. E não sei se será tarde demais para todos nós ».

(Viajante Solitária)