quarta-feira, 12 de agosto de 2009

16 anos

Pois é, mais um ano se passou desde que aqui escrevi sobre o meu aniversário. Faço hoje 16 anos, para ser mais concreta às 19h45. Para este ano não tenho nenhum desejo, nem nada que queira pedir. Vai ser algo simples, sem muita festa e principalmente com as pessoas de quem gosto.

Queria também agradecer a todos as pessoas que têm comentado este blog. É importante para mim saber que têm acompanhado o meu trabalho durante este tempo. Obrigada.

Patrícia=)

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O Poder

E se houvesse uma espécie de poder,
Capaz de acabar com os maiores medos,
Despertar os maiores desejos
E guardar os maiores segredos?

Algo que fosse proibido,
Uma maneira de fugir ao Destino,
E de alguma maneira diabólica
Alterar o caminho.

Um poder sobrenatural,
Algo sem explicação,
Feito para os desafortunados ou,
Para aqueles que têm como companhia, a solidão.

E se esse poder fosse revelado,
De alguma forma desapareceria,
Envolto num manto de pecado,
Como num passo de magia.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

"Está bem"

Estavas tão longe,
Sentia a brisa passar por entre os dedos,
Como um murmúrio inaudível,
Como uma vida cheia de segredos.

"Está bem" , disse,
Não queria ouvir mentiras.
"Está bem", aceitaste,
Mas não era o que querias.

Senti-me miserável,
Mas onde estavas quando me perdi,
Quando não me encontraste,
Quando bati no fundo e, quase, sucumbi.

Talvez não estivesses mesmo lá,
Uma presença que nunca chegou,
Mas onde estavas?
Pois não foi comigo que partilhaste o teu...

"Está bem"

sábado, 11 de julho de 2009

Paranóico

O medo é mais forte que tu,
Não o consegues controlar,
E por mais perguntas que faças,
Não posso adivinhar...

Acho que estás paranóico

Queres ser forte,
Mas não entendes a razão,
De estar tão assustado,
Com perguntas sem explicação.

Acho que estás paranóico

Vá lá, diz de uma vez,
O que não tens coragem,
Que estás amedrontado,
De fazer a última viagem.

Acho que estás paranóico

Estás paranóico,
Possivelmente não sabes porquê,
Mas estás paranóico,
E isso toda a gente vê.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Tu

Exigir aquilo que não se dá,
Tendo fé em palavras vagas,
Tentando encontrar um rumo,
Desfiando a sorte em desgraças.

Escreves o nome nas estrelas,
Pintas o céu da cor que queres,
E para trás vais deixando,
Todos aqueles que feres.

Será que peço muito?
Apenas que me vejas,
Como alguém que queres ao teu lado,
E não quem rejeitas.

Não sabes o que sinto,
É díficil para mim dizer,
Talvez faça como tu,
E possa esquecer.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Fingir

E o que aconteceu à tristeza,
Quando de sol se encheu o céu?
O que aconteceu à beleza,
Quando ficou escondida, envolta num véu?

Julgam-se nobres, bem falantes,
Modos delicados, olhar cordial,
Fazem tudo para não morrer,
Mas que eu saiba, ninguém é imortal.

Imagino ser alguém que não sou,
Não escrevo, não falo, não digo,
E se tal for um castigo,
Levante-se aquele que o tempo não mudou!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ter-te aqui

As páginas que escrevo,
Nessa lembrança atordoada de ti,
Ainda vivendo na esperança,
De um dia poder ter-te aqui.

Não remei contra a maré,
Se o fizesse estaria longe,
Na tua ausência relembro o passado,
A saudade nos dias de hoje.

Se o tempo voltasse atrás...
Se eu conseguisse ter-te aqui,
Não precisava de alimentar,
Os remorsos de ter sido o fim.

Mas pobre vida que me guia,
Retira o ar, será sempre assim,
Mas se ao menos.. oh se ao menos...
Se eu pudesse ter-te aqui...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O regresso do mar

Caminhando pelas águas,
Na agitação sem fim,
Ouvindo o som de um búzio,
Cantando para mim.

Não! Não podes lutar,
Contra o regresso do mar,
Que envolve e esconde,
Mostrando as linhas do horizonte.

E não! Não podes parar,
O regresso do mar,
Corre sem destino, envolve o teu caminho,
Mas não podes travar o regresso do mar.

E sem fronteiras abre o teu coração,
Deixa-te transbordar,
Pois um sopro no ouvido,
Anuncia o regresso do mar.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Coração

Bateu tão forte que o senti nas mãos,
A uma velocidade quase estonteante,
Não queria pensar no que se seguia,
Tu eras o mais importante.

Não queria arriscar estar tão perto de ti,
Sentir-te era quase mortal,
Mas a vontade é cega,
E perdoa-me... o pensamento fatal.

Jurei que isto não voltaria a acontecer,
Não te sentiria tão veloz dentro de mim,
Mas quem manda na paixão,
Se o sentimento é mesmo assim?

Não consigo ficar calada,
Nesta alegria tão grande de dizer,
Que perdida e abandonada,
Coração, jamais vou ser!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Sem querer

É difícil entender o mundo,
Quando se vive no escuro,
Quando se foge e se perde o sonho,
Sem querer.

E as palavras que voam,
E os cânticos que entoam,
Perdem a voz e morrem,
Sem querer.

No caminho traçado,
Na força das marés,
No trilho abandonado,
Pela falta de fé.

Não existe um só grito,
No meio da confusão,
Não há alegria sem tristeza,
Nem mágoa sem perdão.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Herói

Não é aquele que mostra um sorriso,
Não é aquele que aparece por ser preciso,
Não é a sua simpatia que se procura,
Não é um pouco de sanidade no meio da loucura.

O herói estende as mãos à vida,
Faz uma promessa em silêncio,
E mesmo que pareça distante,
A sua palavra é digna e o olhar triunfante.

Ele resiste através da esperança,
Nunca vacila na sua demanda,
E não desiste dos seus desejos,
Das ambições, dos anseios.

Será o herói um fruto proibido?
Uma reflexão ou um pensamento veloz?
Não...
Um herói é alguém dentro de nós.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Asas

A saudade e a demora,
Neste tempo, que já é de outrora,
Lembra-me o quanto a vida corre.
E como corre.

No pranto e no desalento,
Na ansiedade de um momento,
Não se sabe o quanto tudo dura.
E como dura.

Nos laços que se criam,
E nas barreiras que desafiam,
Até os mais fortes.
E como são mais fortes.

Na alegria de uma vida,
E nas lágrimas de uma despedida,
Quem será o mais forte?
E como será o mais forte?

E quando se perde o norte,
Quando o que parece ser vida é morte,
Eu penso:
"Ai se tivesse asas..."

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Por aqui se vê...

Hoje trago algo completamente diferente. Na minha opinião e assim que aconteceu, resolvi que tinha de publicar isto pois por aqui se vê o carácter de algumas pessoas. Não falo no geral, há sempre excepções à regra.
Normalmente desloco-me de autocarro para ir para a escola e para vir para casa. Numa dessas viagens, entrou um senhor já idoso, com um violino dentro de uma mala e uma bengala para se apoiar pois tinha muitas dificuldades em se deslocar. O motorista do autocarro, um jovem (diga-se de passagem) , quase que saiu do local onde estava sentado para ajudar o senhor, mostrando uma simpatia invulgar e de admirar nos dias de hoje. Fiquei realmente surpreendida com aquela acção pois normalmente vejo o contrário. Não esperam que as pessoas se sentem, pelo menos as que têm dificuldades, não ajudam minimamente, nem sequer se levantam para deixar os mais necessitados apoiados durante a sua viagem.
Mas voltando ao assunto. O senhor agradeceu a simpatia do condutor, mostrando-se sensibilizado. A viagem decorreu normalmente, sem quaisquer imprevistos, até que o senhor carrega no "Stop" e pede ao motorista para sair pela porta de entrada. O jovem sempre muito afável, acenando afirmativamente com a cabeça e sorrindo para o senhor.
Fiquei mais uma vez surpreendida pela amabilidade do motorista. Mas assim que o senhor saiu do autocarro, o jovem virou-se para outro homem que estava junto a ele e disse tal coisa:
" - Estes velhos já não podem andar sozinhos!! Quero ir almoçar, pá!! "
E eu fiquei completamente boquiaberta com tal transformação. A arrogância com que proferiu aquelas palavras, a maneira como agora parecia uma pessoa completamente diferente, deixou-me sem palavras.
Aquele jovem devia aprender uma lição. Se não tem estofo para ser condutor, esperar pelo ritmo das pessoas, então não devia estar ali. Por aqui se vê que há gente que precisa de crescer e mais importante que isso, de uma boa educação.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Palavras

Tudo o que eu queria,
Não precisava de ser perfeito,
Talvez pouco trabalhado, pouco amado,
Mas era algo que me dizia respeito.

Nada podia mudar isso,
Nem mesmo a memória,
Era mais que presença, mais que alegria,
Mais que uma batalha e uma vitória.

Foi algo que eu fiz,
Algo que a minha boca não conseguiu calar?
Ou foi simplesmente o tempo,
Que a tua não deixou falar?

Como gosto de ouvir o silêncio,
Como as rimas parecem calmas
Não são mentiras, nem ilusões,
São apenas o que resta, palavras...

domingo, 26 de abril de 2009

Sopro de Liberdade


Era o tempo que se fazia tarde,
O sofrimento já pesava, a dor era muita,
No peito carregavam a dor dos Homens,
No corpo as marcas de tortura.
O silêncio era cruel,
As palavras ficavam por dizer,
E na consciência dos Homens,
Nada se podia fazer.
Foi então que surgiu,
Como um sopro de Liberdade,
Um povo mais que unido,
Querendo bonança, no meio da tempestade.
E assim nasceram cravos,
As palavras saíram, o povo gritou,
A união faz a força
E disso, nunca ninguém duvidou.
Um sopro de liberdade para todos.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Materialista

É estar presa a um mundo que não existe,
Do ponto de vista de um materialista,
É não acreditar na obra de um escritor,
Na pintura e escultura de um artista.

Isso faz de mim uma mentira,
Um espelho frágil e trágico de uma vida,
Com falhas e retalhos, pedaços e traços,
Não sei de quem a minha existência deriva.

Se a minha existência não existe,
Sou mera manipulação do destino,
Isso faz de mim quase imaginação,
Um pensamento de ilusão, sem nexo ou sentido.

Não quero acreditar na verdade,
Talvez por que não passa de uma mentira,
Chamem-me abençoada, talvez artista,
Mas calem-se as bocas que me chamam materialista!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Desafio

O desafio que tive oportunidade de ler através do blog "Anjo de Cor", interessou-me e então resolvi aceitar de imediato. Trata-se de pegar no primeiro livro que estiver à mão, abri-lo na página 161 e copiar da 5ª linha a frase completa. Aqui vai a minha frase:

"Não sei ao certo quanto tempo fiquei assim, mas quando voltei à superfície e abri os olhos, ao mesmo tempo que respirava sem fazer barulho, a música havia acabado."
Sputnik, Meu Amor- Haruki Murakami

Espero que aceitem este desafio.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Não, obrigada



Do sangue que jorrou,
Das lágrimas que secaram,
Uma mão cheia de tudo,
E outra, por sinal, sem nada.

Da rosa com espinhos,
Que magoam em silêncio,
Do pecado, desejado,
Da vida tão breve e no entanto, intensa.

Por isso renuncio,
Por que o corpo, mente e alma,
É um ser magoado,
Por agora digo assim: não, obrigada.


( Todas as imagens colocadas são imagens do google. Nenhuma delas é de minha autoria.)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Podia...

O tempo e a memória,
O princípio e o fim,
A alegria e o sonho,
A vida é mesmo assim.

Não posso encontrar um rumo,
Se o caminho eu não sei,
Não posso ser maior,
Se no fundo, nunca me encontrei.

Podia ter asas, saber voar,
Podia correr, talvez mergulhar,
Mas não se compra, aquilo que se encontra,
Dentro de mim.

O tempo e a memória,
A vida é mesmo assim...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Sonho

Hoje olhei para a folha,
Vi nela uma grande dúvida,
Não existiam palavras, nem riscos,
Apenas brancura.

Queria encontrar em mim,
Algo que pudesse mudar,
Talvez o aspecto, a personalidade,
Com certeza a maneira de falar.

Foram tantas as emoções,
Lembro-me de rir e chorar,
Quando lia uma história,
Ou a contava, de sentimentos a transbordar.

Tudo não passava de um sonho,
Era claro como a verdade,
Mas neste mundo de injustiças,
Nunca há igualdade.

Então sonhei ser uma folha,
Uma folha com uma dúvida,
Não ter palavras, nem riscos,
Ser apenas brancura.

É o regresso à poesia.

domingo, 5 de abril de 2009

Memórias - Cap.4

Eu não podia ouvir aquelas palavras e não pensar nelas. Dante não foi preciso, talvez fosse essa a sua intenção. Eu era egoísta. Durante aquele tempo, tinha pensado apenas numa maneira de expulsar Ema daquela casa. Existiam problemas bem maiores que a minha vontade, agora via isso. Mas que podia fazer? Eu era uma criança que nem a sua própria cabeça compreendia quanto mais retirar a venda dos olhos e tomar consciência do que se passava para lá do meu conto de fadas! Eu não vivia numa ilusão, isso seria um castigo demasiado penoso. A casa de férias, as empregadas, os sorrisos arquitectados, a verdade que chegou tarde demais...
« - Passa-se alguma coisa, menina? »
« - Qual é a verdade que eu não vejo? Se existe alguma verdade nisto tudo » .
« - Não estou a compreender ».
« - Quais são os segredos que me esconderam? »
« - Não sei do que fala ».
« - Por que é que sinto que está tudo errado? Eu não confio em mais ninguém, nada parece fazer sentido! Quem sou eu? O que faço aqui? »
Tinha a sensação que tinha perdido a minha identidade. Eu não era sensível, aguentaria qualquer verdade. Quem pensava que o era, não me conhecia nem um pouco. Lembro-me que naquele dia refugiei-me no sótão. Raramente subia as escadas que davam acesso àquela parte da casa mas sei lá porquê, resolvi abrigar-me naquele local. Era um bom espaço, apesar de estar vazio. A vista para o campo era de facto extasiante, sendo lamentável apenas existir uma janela.
Escrevi na última página do diário as minhas interrogações. Não eram para ninguém, todas as anotações que fazia serviam para clarificar os pensamentos que cirandavam à volta da minha cabeça. Naquele momento julgava que estava enganada quanto a tudo. Até então, a verdade era um termo que pertencia a todos os seres humanos, um termo ao qual ninguém podia fugir sem ser julgado dia menos dia. Tomei como exemplo o meu pai. Não tinha uma relação próxima com ele, não sabia o que fazia quando estava triste, as suas expressões, o que representava na sua vida. Concordávamos nesse aspecto: também ele não sabia nada sobre mim. Não quer dizer que não tivesse curiosidade em aprender e descobrir a sua personalidade mas não valia a pena quando esse alguém se fecha sobre si próprio como uma concha. A verdade nunca me pareceu desaparecer das suas palavras ou acções. O meu pai era um homem correcto, justo, um homem “às direitas”. Não falava sobre o seu trabalho, o que sempre me intrigou, mas isso nunca foi motivo de conversa. A minha mãe era uma pessoa impulsiva. Sempre deixou os momentos de cordialidade, as relações formais, ela gostava de se relacionar com toda a gente e de não ter apenas um ponto de vista. Não tinha receio de ser falada, tudo o que fazia era usado para o Bem e nada contra esse valor. Os meus pais eram precisamente o contrário um do outro.
Dante. Não sei por que pensei nele, acho que se o tinha feito, com certeza teria alguma razão de ser. Ele também era muito diferente de Ema. A maneira como falava, pensava e por vezes agia, tornava-me uma pessoa insignificante. Eu não tinha uma ideia de como a realidade era para lá da minha própria vida. Por outro lado, ele sabia muito bem tudo o que se passava. Mais uma razão para o meu pai o achar uma pessoa inconveniente. Mas eu não pensava assim, de maneira nenhuma. Queria-o bem perto, como uma tábua de salvação. Ele era a única fuga a todas as mentiras, ou pelo menos às verdades omitidas. Não tinha qualquer dúvida quanto à sua presença e aos sentimentos que nutria por Dante. Ele era um amigo especial, uma pessoa que me “empurrava” para a realidade quando a ilusão já não fazia sentido. Esperava encontrar respostas para as minhas interrogações. Apenas não queria tornar-me como aquele sótão, um espaço vazio...

(Viajante Solitária)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Memórias - Cap.3

Não foi uma conspiração contra Ema. Eu não queria magoá-la, apenas tirá-la da minha casa. Confiei em Dante para me ajudar nessa difícil tarefa. Naquela altura podia jurar que não havia melhor pessoa que ele. Fizemos um pacto de fidelidade. Rájia não gostou da minha proximidade com Dante, inventando muitas vezes tarefas para me manter ocupada.
« - Tenha cuidado com aquele rapaz. Não se esqueça de quem é filho » .
« - Rájia... »
Eu tinha curiosidade em saber.
« - Deseja alguma coisa? »
« - O que é o amor? »
Pensei que Rájia ia fugir à minha pergunta, inventar uma desculpa qualquer e deixar-me na ignorância. Mudei completamente de opinião quando a vi sentar-se na cadeira defronte à minha, envergando um ar pensativo. Gostava de observar as pessoas quando estavam distraídas. Os olhos pareciam ficar vazios, o corpo parado, a verdadeira essência transparecia.
« - O amor não é algo que se explique. Primeiro tem de o sentir. Tudo se torna diferente, o mundo é visto com outros olhos » .
Assimilei as palavras proferidas. No entanto continuava sem entender o seu verdadeiro significado. Se o amor era assim tão bom, tão feito de magia, por que razão Rájia tinha quase implorado para que não contasse a ninguém o que estava a fazer no celeiro? Na altura disse-me que não era nenhum crime.
« - O meu pai amava a minha mãe? »
« - Tenho a certeza que sim. Quando se ama alguém, aceitando tudo o que de bom e de mau tem, não há razão para se ser infeliz. E a sua mãe tinha um brilho nos olhos, uma alegria de viver quase inesgotável. Por outro lado o seu pai viveu sempre encerrado no silêncio mas tenho a certeza absoluta que foi muito feliz com a sua mãe. Especialmente depois do seu nascimento».
« - Gostava que o meu pai não fosse tão calado. Tenho medo que a solidão que transporta o torne amargo, ainda mais amargo ».
Naquela casa as pessoas passavam a vida a servir e a ser servidas. Durante as pequenas pausas em que ocorria uma transição, não existia um sorriso fugidio, uma palavra de agradecimento ou mesmo um olhar de soslaio. Um pai e uma filha, cara e coroa da mesma moeda, dois desconhecidos sobre o mesmo tecto.
Os soldados deixaram de marchar no soalho da casa. Mas ao contrário do que esperava, todos os dias o meu pai recebia correspondência do exército. O selo timbrado com o símbolo oficial não passava despercebido. Sempre me intrigou o facto de nunca se falar daquele assunto. Sim, o meu pai era comandante das tropas e tinha poder dentro daquele meio mas se era essa a sua função, por que não orgulhar-se de manter a paz e prosperidade na cidade?
« - Posso fazer-te uma pergunta? »
Os passeios pelo campo eram feitos a meio da tarde. Normalmente caminhava com Rájia, ela gostava de me contar uma história enquanto desfrutávamos da paisagem. Mas com a chegada de Dante, a sua companhia passou para segundo plano. Ele era algo calado, parecia guardar as suas reflexões para si mesmo e apenas as partilhar quando encontrava o momento propício. Fiquei algo curiosa quando naquela tarde, me dirigiu a palavra.
« - Claro ».
« - Gostas de viver assim? »
« - Gosto da Natureza, da paz deste lugar, de como o simples é belo » .
« - Não me referia a isso ».
« - Então? »
«- Gostas de viver nessa concha que te protege da verdadeira realidade? »
« - O que queres dizer com isso? »
« - Acho que não tens consciência daquilo que se passa. Que de alguma forma te prenderam num escudo onde a verdade não entra. Esconderam-te muitos segredos, muitas acções que passaram despercebidas quando deviam ter sido faladas e impedidas. Vendaram-te os olhos, trouxeram-te para locais bonitos e esqueceram-se que lá fora, na verdadeira realidade, o sonho já não existe. E não sei se será tarde demais para todos nós ».

(Viajante Solitária)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Memórias - Cap. 2

Durante o Verão, o meu pai levou-me para a nossa casa de campo. Era bonita e agradável, gostava bastante de passar as férias naquele local. Foi nesse mesmo Verão que comecei a escrever o meu primeiro diário. No início foram apenas algumas frases, uns pensamentos que me ocorreram e decidi guardá-los como um auxiliar de memória. Ainda me lembro do seu aspecto: um caderno pequeno, de capa azul ciano e uma fita cor-de-rosa com cheiro a rosas. Escolhia uma caneta e apenas com ela escrevia. Agora que penso nestas recordações, uma profunda nostalgia começa a surgir. Como eu era uma criança enganada! Protegida pelo seu próprio escudo, indefesa aos seus próprios ataques.
Foi também nesse Verão que uma mulher chegou à nossa casa. O nome dela era Ema e tinha o cabelo cor de fogo. Chegou com três malas e um sorriso bem arquitectado. O meu pai recebeu-a como bom anfitrião que era, mas sempre com uma intimidade que nunca reconheci com os outros convidados. Olhou-me bem no fundo dos olhos e eu senti a respiração a esvair-se. Quem era aquela mulher? Por que razão o meu pai não me falou dela antes da sua chegada? Essas perguntas ficaram apenas a vaguear na minha mente, não consegui arranjar coragem para confrontá-lo.
« - Deve estar curiosa para saber quem ela é» - disse Rájia, enquanto me escovava o cabelo.
« - Sim».
« - É uma mulher muito rica e muito poderosa. A maneira como chegou, cheia de luxos e privilégios, como é tratada em casa da sua mãe... » - calou-se de repente.
Engoli a seco, talvez por que a verdade é cruel e difícil de aceitar. Aquela casa foi um presente de casamento que os meus avós paternos deram à minha mãe. Ela gostava daquele local tanto ou mais que eu, conseguia observá-lo pelo brilho dos seus olhos. Mas agora ela já não estava presente, a sua alegria tinha desaparecido e a vida passou a ser um mar de silêncios. Uns breves, outros longos, cresci entre as barreiras criadas por mim e o vazio da solidão.
Mas Ema não veio sozinha. Trouxe consigo um rapaz, provavelmente da minha idade, que manteve as mãos nos bolsos durante toda a sua apresentação. A sua postura era considerada um insulto, mas ele não parecia importar-se com isso. Vi o ar do meu pai e sorri discretamente. Aquele rapaz era exactamente tudo o que ele evitava. Não se importava com a etiqueta, nem com os bons modos perante desconhecidos, tinha simplesmente as atitudes que desejava sem dar explicações a ninguém.
« - Este é o Dante, o meu filho».
Ele retirou as mãos dos bolsos, fazendo uma pequena vénia ao meu pai. De certeza que Ema o tinha obrigado a ser cordial pelo menos naquele momento.
« - Esta é a minha filha, Leonor».
Ele olhou-me de soslaio, o suficiente para sentir o coração despoletar do peito sem qualquer motivo aparente. Inclinei a cabeça em sinal de reconhecimento e esperei que a conversa continuasse. De alguma maneira sentia que Ema não era uma pessoa de confiança, os seus olhos traíam-na e isso fazia-me sentir desconfortável.
« - Então tu é que és a filha de Afonso. Ouvi falar muito de ti... » - disse, mostrando um dos seus sorrisos.
« - Eu nunca ouvi falar de si » - respondi.
« - Leonor! » - a voz severa do meu pai sobrepôs-se ao riso abafado de Dante.
« - Não faz mal, eu compreendo. Ela é muito parecida contigo, Afonso » .
« - Eu sou parecida com a minha mãe » - voltei a responder. Não conseguia controlar a agressividade cada vez que Ema tentava aproveitar-se de mim para cair em graça.
« - Rájia, leva a Leonor para o seu quarto. Ela que se prepare para o jantar ».
« - Eu sei ir para o meu quarto sozinha ».
Dizem que as crianças não têm consciência suficiente para agir de acordo com a sua vontade mas isso não é verdade. No meu caso não. Eu não queria pensar nisso, a minha mente vagueava noutras direcções mas acabava sempre por voltar ao mesmo assunto. Eu não queria aceitar uma realidade que me parecia um pesadelo. Não podia simplesmente morder o lábio de raiva e baixar a cabeça em concordância. Onde estava o meu orgulho? A minha opinião perante algo que me afectaria de forma tão profunda?
« - O jantar está delicioso. Quem o preparou, é de facto uma cozinheira excepcional ».
« - E que tal convidá-la a sentar-se connosco? Não acha que merece? » - tentei manter um tom calmo e pausado, nada que desse a entender que a provocava.
« - Mas é claro que sim! Excelente ideia, querida! »
Nada a atingia. O meu pai começava a olhar-me reprovadoramente enquanto que Ema caía nas suas boas graças. Quando tive licença para sair da mesa, sentei-me na varanda, sentindo o ar fresco bater-me na cara. Nem mesmo aquela paisagem conseguia acalmar todos os sentimentos que fervilhavam interiormente.
« - Se queres prejudicar a minha mãe, estás a fazer tudo mal ».
Era a voz de Dante. Ao virar-me para trás, observei a sua figura junto à porta. Mantinha as mãos nos bolsos, assumindo uma vez mais a postura descontraída.
« - Eu não quero prejudicar ninguém » .
« - Realmente convidar a empregada para jantar com os donos da casa é uma coisa extraordinariamente normal. Por favor, é mais que óbvio que estás a tentar atacá-la ».
« - Não tenho jeito para intrigas » .
« - Falta-te prática. Mas vou dar-te um conselho: não é assim que vais derrotar a minha mãe. Antes de dares um passo, ela já está dois à tua frente. A da cozinheira foi bem pensada, mas não o suficiente para ser considerada uma armadilha » .
« - E o que é que tu tens a ganhar com isso? Ema é tua mãe ».
« - Isso não interessa. Eu sei o que estás a sentir, ou pelo menos penso que sei. Eu posso ajudar-te, se estiveres mesmo disposta a ter aulas de intriga ».
Observei as estrelas. Se a minha mãe estivesse ali comigo, a vida seria muito mais fácil. Tinha saudades do seu tom calmo e gentil enquanto toda a gente perdia a paciência, da sua personalidade forte que nunca ninguém soube domar. Podia ser parecida com ela, mas não era como ela.
« - Eu quero aquela mulher fora desta casa. E faço o que for preciso para atingir esse objectivo» .

(Viajante Solitária)

sábado, 21 de março de 2009

Memórias - cap.1

“Aqueles tempos foram difíceis. As mães corriam para abraçar os seus filhos e os filhos para salvarem as suas mães. Recordo-me das casas destruídas. Talvez por que numa delas chorava uma criança, embrulhada num cobertor, alheia a tudo o que se passava. Alheia não, o seu choro era incessante. Os soldados não deram descanso à cidade durante uma semana. Mataram, saquearam, humilharam os mais velhos obrigando-os a mendigar pelas ruas. Às mulheres, obrigaram-nas a prostituirem-se e muitas delas foram violadas e deixadas a um canto, como um objecto que já não serve para nada.
Tive sorte. O meu pai era comandante das tropas e nada me podia acontecer. Vivia feliz no meu conto de fadas, enquanto toda a população lutava pela sobrevivência. O meu pai nunca foi carinhoso, nem afável ou simpático, limitava-se a ser conveniente em cada situação. A minha mãe morreu quando eu tinha sete anos. Um acidente de viação deixou-a em estado crítico e morreu dois dias depois. Recordo-me que gostava de amoras e o seu cabelo cheirava a pêssego. Os seus olhos eram inocentes e via neles uma bondade rara. Olhava-me de forma protectora, nunca me perdendo de vista. Ensinou-me as primeiras palavras, a primeira canção, o meu primeiro sorriso foi para ela. Ao contrário do meu pai, ela não tinha medo de mostrar os seus sentimentos. Chamava-se Safira, uma verdadeira pedra preciosa.
A casa tinha muitas empregadas. Uma delas, Rájia, tinha uma atenção especial para comigo. Depois de perder a minha mãe, a figura feminina que me ajeitava os lençóis e por vezes me contava uma história passou a ser uma desconhecida. Chorei em silêncio, tendo como testemunha a almofada que amparou todas as lágrimas derramadas. Naquela altura perguntei-me por que Deus tinha levado a minha mãe. É claro que não obtive resposta, ainda não compreendia como estava a ser egoísta...
Os soldados entravam e saíam de casa, especialmente ao cair da noite. Ouvia as suas botas a pisarem o soalho e os passos rápidos e sincronizados, tal como uma marcha. Nessas alturas o meu pai mandava-me ficar no quarto. Nunca senti curiosidade em saber do que falavam, as conversas dos adultos eram demasiado aborrecidas. Rájia ficava comigo até ter ordens para descer. Não passava de uma menina, uma filha de empregada que não tinha outro destino sem ser seguir a profissão da mãe. Olhava para a lua com um brilho estranho. Parecia fascinada, quase como hipnotizada. Perguntei-lhe por que motivo o fazia, mas nunca obtive resposta.
Uma vez, provavelmente já teria os meus doze anos, encontrei Rájia no celeiro. Ao dirigir-me para casa, ouvi uns barulhos estranhos e resolvi ver o que se passava. Confesso que nos primeiros segundos não pensei em nada. Uma criança não tem consciência, pelo menos eu não tinha, do que se estava a passar naquele momento. As suas costas estavam nuas, envolvidas por braços fortes e musculados que não lhe pertenciam. A um canto, encontravam-se as roupas. Devo ter feito barulho pois Rájia apercebeu-se de uma presença e correu a vestir-se. Levou-me para fora do celeiro com uma rapidez quase alucinante, deixando para trás o homem de braços fortes e musculados.
« - Por favor menina, não diga nada a ninguém.Eu não posso ser despedida, a cidade está a passar por uma fase difícil».
Julguei que ia chorar. Mas como podia falar daquilo a alguém se não sabia o que tinha visto?
« - É assim tão mau? Estava a cometer algum crime?»
« - Se o amor for um pecado, não passo de uma pecadora».
As suas palavras permanceram na minha cabeça durante muito tempo. Nunca ninguém me tinha falado sobre amor, nem mesmo nos livros da escola. A minha mãe não teve oportunidade de me ensinar o quanto essa palavra era importante. Tenho a certeza que se estivesse viva naquela altura, explicar-me-ia de forma a que entendesse.

(Viajante Solitária)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Memórias a preto e branco

Um tempo, um espaço
Um caminho e um atalho,
Perco as forças
Dentro de mim.

Não há chama, nem clarão,
O sol já se foi,
Os teus olhos, no meu rosto,
Lembram-me de não ter a noção.

De que vale ser maior,
De que vale não saber,
Se o que dói me faz melhor,
Mas a dor faz-me sofrer.

Não quero ouvir o som da tua voz,
Quando eu quis tu não estavas,
E no fundo sei que gritavas,
Mas eu não consegui ouvir.

E neste espaço, neste tempo,
Não há paz, neste momento,
Reza a lenda que um dia o amor existiu.
E agora parte só,
Nesta demanda...Estou cansada e frustrada...
As memórias que o passado não esqueceu.

(Viajante Solitária)

sexta-feira, 13 de março de 2009

Trova do Vento que passa - Manuel Alegre

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do m eu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio – é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi meu poema na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(Portugal à flor das águas)
vi minha trova florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale da pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria Florinda.

E a noite cresce por dentro
Dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

domingo, 8 de março de 2009

Dia da Mulher


Feliz Dia da Mulher! Sejam felizes hoje. E sempre.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Nada existe sem razão


Nada existe sem razão. Mas porque razão me sinto sem razões para explicar o nada? Será a razão uma parte de mim, daquilo que o nada representa e que essa mesma razão que há em mim teima em não entender? Ou será a razão uma justificação do nada, um simples motivo para aquilo que sinto se transformar no nada e as minhas acções nas razões?

Se nada existe sem razão... Então porque me questiono sem saber o motivo?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

...

Normalmente isto não me acontece mas ontem quando estava a vaguear por este mundo que é a Internet, resolvi ir ao Youtube e ouvi uma música que me pôs a chorar. A cantora que a interpreta é a Mariah Carey e a canção intitula-se por "Bye Bye".
Aqui vai o link para quem estiver interessado em ouvir.

http://www.youtube.com/watch?v=SuexkG0AWyE&feature=related

Espero que apreciem! =)

P.S - Estejas onde estiveres, esta música é para ti Avô.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sonhos


Nunca foram claros, nunca me mostraram o que realmente desejava. Mas eles existiam, oh, se existiam...
Lembro-me de querer ser tudo o que sonhava. Era tão bom imaginar o mundo que criava e fazer dele a minha realidade...
Eram da cor que eu quisesse, com as pessoas que quisesse, na paisagem mais doce do mundo. E eu queria tanto transformá-los... Tanto amar a pessoa que imaginava...
Foram lindos os sonhos que sonhei. Olhando para trás vejo que esses sonhos, são agora os mesmos.
E eu continuo a mesma... O que posso dizer, sou uma eterna sonhadora.